sábado, 21 de maio de 2011

Venho morrendo, eu, morro.

" mas eu não sou triste assim... é que hoje eu estou cansada. "

" - Geralmente fala-se do amor, não é? e abafa-se o Ódio. Mas naquilo d'ela existe tão intensamente o amor quanto o Ódio. Duas coisas ao mesmo tempo.
E esse traço de personalidade marcado por essa oposição, por vezes até antitética, é marca da personalidade dela também. "

" - Ela vivia tão intensamente a arte que fazia, que acabou se ficcionando. Ela também tornou-se personagem. "

Em um de seus últimos dias de vida, no seu leito do hospital, Ela teve uma espécie de ataque de vertigem. Talvez falhasse o coração, ou talvez ele apenas se empolgasse demais, sinceramente não sei. Não me lembro bem.
Mas o que conta é isto: teve um ataque de morte, daqueles que fazem a vertigem saltar ao chapéu da cabeça e pesar no pescoço, nos joelhos e principalmente na Vontade. Levantou-se em desespero e foi caminhando sôfregamente até a porta. Não sabia onde iria, mas sabia que devia ir pra algum lugar terminar o que começara.
Mas infelizmente pra mim, pra ela e pra você, a enfermeira apareceu.
Sim, uma enfermeira, interrompendo todo o Grande Plano.
- Volta pra sua cama, Clarice. Onde é que você pensa que vai?
Ela, frenética e aborrecida, gritou:
- MAS VOCÊ ACABOU COM TODO O MEU PERSONAGEM!

.
.
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( ponto sobre ponto / colecionando instantes-já )
Amém.

Tem gente que existe mesmo em outro plano...
e dói.
.
mas pra essa gente, doer é que é estar vivo.
e pra essa gente, viver é realmente ser e estar. Existe-se acima de tudo, meu amor.
Quando o mundo é mundo, e belo, e amado... Nossa!
que vontade de ter um milhão de vidas pra viver as mesmas coisas novamente!
amar as mesmas risadas, colecionar as mesmas amizades, os mesmos momentos, os mesmo lugares.
essa gente, quando ama, vive. Mas não só vive de existir sem fé, Vive-se acima de tudo.

Só que dói, tem preço. É como viver em mutum.
sempre entre morros e vales e por ora no t granítico. ciclo eterno. reverberação.
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Um dia amei tanto a vida que cheguei ao ponto de me perguntar:
" - Como pode uma pessoa ter tanto desespero dentro de si pra ser capaz de acabar com a própria vida? Deus, acho que o que eu mais temo é a morte. Como pode uma pessoa inteirinha decidir e reclamar por deixar de existir? "

Hoje, eu penso:
" - E pra que serve viver? As mesmas situações de sempre, momentos de sempre, decepções de sempre. Deus, sou medrosa demais pra tirar minha vida. Sou fraca e tenho medo da dor. Não poderia você fazê-lo por mim?
Fico imaginando o dia da minha morte. Quem estaria lá? Você sabe, Deus? Eu não sei, mas eu gosto de imaginar. Estar se despedindo de alguém é sofrer pela vida que poderia ter sido e não foi, a vida que cada um poderia ter tido e não teve. Sabe, eu poderia ter estado lá com todos eles se não tivesse morrido. Sinto falta de você, mas não sei quem você é. Quem é você, pode me dizer? E eu consigo te escutar daqui? Vai me prometer que estará lá, no dia da minha morte? E teria coragem de assinar um contrato? Deus, eu morro de medo de contratos. Evito todos. Mas tem sempre aquelas gentes que me fazem ser ingênua o suficiente pra assinar contratos, e é bom.
Adoro conhecer aqueles que me fazem ser ingênua o suficiente pra acreditar nas coisas. Menos você. Você me faz mal demais, meu amor. Você foi mordido por um anjo, e agora me morde também. só que minha carne já ressecou tanto, amoleceu tanto, pendeu tanto... que nem sinto mais o choque nos nervos. Eu sinto só o som seco do dente batendo no osso, e só.
Seco, seco demais. Cansada demais, acima de tudo.
Sem carne, saúde, vontade.
Metálico, apenas.

Esperando a morte apenas, e quase desejando que você esteja lá.
Mas, honestamente, não tenho motivação nem pra isso.
Estou morrendo, amor, estou morrendo aos poucos.
Já não subo, já não caio. Apenas fico e espero. Fecho os olhos, aperto a palma.
Caio e morro.
Morro.
Morro.
M . "


Estou a ponto de voluntariamente rolar todas as minhas mil cabeças.
Medusa, me usa.
Sou objeto, não sou pessoa.


ah, é que hoje eu estou cansada...
geralmente não sou tão triste assim.
É que hoje estou cansada...

Um comentário:

  1. vem ser jovem comigo, que quando se é jovem não tem passado nem futuro, não se faz aniversário, não se marca compromisso, não se projeta: se tem a memória do agora, um eterno e mais amplo agora de todos os que já se viu, o amplo espaço aberto num abraço que se distancia pelo campo e a gente correndo atrás dele com toda a carne do corpo sendo jovem pra sempre enquanto dura a juventude

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